Cascais foi uma das mais lindas descobertas que fiz na minha recente viagem por Portugal. Já estive no país muitas vezes e nunca havia dedicado um tempinho para conhecer Cascais, ali tão pertinho de Lisboa e sinceramente, não sei a razão absurda disso.
Minha proposta central nessa viagem foi dedicar tempo para estar nas cidades que geralmente as pessoas apenas fazem uma visita de bate-volta, como foi no caso da Vila de Cascais, de Évora, Sintra, Braga, a região do Douro e Coimbra.
Braga
Muitas pessoas se equivocam quando pensam que não há muito o que fazer nesses lugares “menores”, por não serem cidades mais badaladas ou capitais. Engano grotesco eu diria. Vamos começar por Braga, que é a terceira maior cidade de Portugal e dona de uma vida cultural pra lá de badalada e ativa. Eu já conhecia Braga de outras viagens no estilo bate-volta e dessa vez fiquei dois dias por lá. Na realidade, se eu tivesse ficado uma semana ainda seria pouco para conhecer melhor tudo que a cidade tem para oferecer.
Évora
Évora é outro exemplo de cidade com muitas coisa para visitar, por lá e nos arredores. Pra você ter uma ideia, quando eu montei esse super guia do Alentejo aqui, eu fiquei hospedada em Évora por uma semana e não conheci tudo na cidade, assim como ficou faltando um monte de coisas para conhecer em outras vilas menores ali próximo de Évora.
Coimbra
Coimbra é outro exemplo, uma cidade tão efervescente, com uma vida cultural latente, com tantos estudantes por todo canto, não há como reclamar de tédio por lá. Vamos combinar que Coimbra é uma cidade surpreendente por você esperar coisas muito óbvias e ser surpreendido por lugares tão apaixonantes como no caso da Quinta das Lágrimas. Mais uma cidade que pude explorar com mais calma, além dos bate-volta que já havia feito em outras viagens.
Mas Naira, e Sintra, Cascais e Região do Douro, o que há para se fazer que seja necessário mais tempo? Minha resposta é muito direta: MUITA COISA, MUITA MESMO.
Sintra
Vamos começar por Sintra. Uma vila que fica tão pertinho de Lisboa é um convite para uma esticada na viagem, não uma passada apenas.
Em Sintra você vai encontrar ao menos quatro atrações enormes para visitar (Palácio de Sintra, Palácio da Pena, Castelo dos Mouros e Quinta da Regaleira) e isso jamais poderá ser feito em um bate-volta. Sem contar nos outros conventos, palácios e palacetes como o Palácio de Monserrate, Chalé da Condessa D’Edla, Convento dos Capuchos, Quintinha de Monserrate e Palácio de Queluz (esse fica nos arredores de Lisboa). Tudo isso merece ser visitado sim, são lugares incríveis que tive a oportunidade de conhecer um a um e essa experiência jamais seria possível em um bate-volta. Sintra é uma vila pequena em dimensões geográficas, mas é de uma riqueza histórica e cultural em Portugal que poucas pessoas fazem ideia.
Indo além dos lugares incríveis para visitar, Sintra tem toda uma magia, não há como explicar de forma simples a atmosfera de Sintra. Fiquei lá por uma semana no total e poderia viver toda uma vida naquele lugar, de coração. Sintra é muito mais cativante do que se pode imaginar. Sentar num café em um fim de tarde de outono, portanto já friozinho, e ficar observando o sol indo embora, as pessoas caminhando sem pressa (a essa hora, aqueles grupos enormes de turistas já tinham ido embora e a vila ficou calma, serena) enquanto a noite chegava, essas são apenas algumas das memórias mais incríveis que guardo dessa viagem. Isso não seria possível em um bate-volta.
Mesmo que você não tenha muito tempo, fique ao menos uma noite em Sintra, a vila é recheada de bons hotéis para todo bolso e apartamentos charmosos do AirBnb, por exemplo. Tenho certeza absoluta que você, quando voltar de viagem, vai me agradecer. Tem experiências que a gente vive só quando desacelera, quando se permite ter tempo pra não fazer nada, não pensar em nada. Reflita.
Cascais
Agora vamos falar de Cascais, o lugar que já comecei falando lá no início do texto. Cascais é outra vila que fica ali do ladinho de Lisboa e também super perto de Sintra.
Cascais é para os apaixonados pelo mar, fato. Não vejo uma vocação maior para a cidade, que preferiu manter o status de vila pra não perder sua característica.
Esse é um dos destinos ideais para quem gosta de programas ao ar livre, aproveitar a natureza e conhecer um dos lugares mais bonitos do país, sempre na companhia de um clima ameno, mesmo no outono ou inverno. Estive lá quase no inverno e os dias eram bem ensolarados e frescos, nada de frio absurdo como mais ao norte, por exemplo.
Quando eu digo que Cascais é um lugar para os apaixonados pelo mar, não estou exagerando. Numa costa marítima de 30 Km é possível encontrar várias praias, umas de traços mais selvagens e rodeadas por um bonito cenário de dunas e serra, outras mais perto do centro da vila e acessíveis a pé. Qualquer que seja a opção, além de bons mergulhos e banhos de sol, ainda há uma infinidade de práticas esportivas para aproveitar por lá.
Mas claro que Cascais também tem seu Centro Histórico e é lá que você vai encontrar os melhores restaurantes, lojinhas e lugares lindos para visitar. É de lá que você consegue observar os pescadores e a baía de onde saem todos os dias barcos para alto mar.
Nada como flanar com toda tranquilidade pelas ruas e ruelas do centro, passear calmamente pela fortaleza, conhecer os museus e os jardins. A soma de tudo isso se traduz em um centro histórico riquíssimo, belo, pulsante desde os primeiros raios de sol até, bom, até ao sol nascer outra vez.
Quando estive por lá, fiquei hospedada em um hotel maravilhoso, o Intercontinental Cascais Estoril que fica debruçado para o mar e minha experiência deliciosa você pode conferir aqui.
E como falar de Cascais e não citar o Mercado da Vila? Eu sou uma apaixonada por gastronomia e cultura e não teria como não conhecer esse lugar especial. A primeira vez que estive lá, foi para um jantar bem rápido na companhia de meu amigo Miguel. Lembro-me que já era noite, Miguel foi me buscar na rodoviária de Lisboa para me levar até Sintra (quando iniciei minha semana por lá) e me disse que antes de seguirmos até nosso destino final, ele iria me levar para comer uns petiscos tipicamente portugueses em um lugar muito especial, lugar esse frequentado por ele já há muito tempo. Chegamos no Mercado da Vila já bem de noite e claro, não havia mais barracas montadas naquela hora no grande pátio interno, apenas os restaurantes estavam em funcionamento.
Demos uma caminhada pelo ambiente, passamos e até entrei para observar um pouco naquele que talvez seja o restaurante mais badalado por lá, o “Marisco na Praça”, mas logo seguimos para o andar de cima onde eu iria experimentar os melhores petiscos em minha viagem. O “Páteo do Petisco” é uma mistura de barzinho com restaurante para nós brasileiros entendermos mais ou menos o ambiente. Nada muito arrumadinho, um lugar simples, com ambiente acolhedor, pessoas super de bem com a vida e comidinhas deliciosas. Foi uma super descoberta e portanto, minha dica pra você experimentar por lá.
Depois, em outro dia, quando estive de volta a Cascais, desta vez para ficar de fato na vila, voltei lá no Mercado com mais calma e entrei naquele clima gostoso do lugar. Infelizmente, pelo Rio, lugar onde moro atualmente, não encontro mais essa atmosfera boa, slow motion, mas ao mesmo tempo tão moderna. Se tem de tudo, sem que tudo seja urgente. Ah, esse povo de Cascais sabe viver, viu…
Vale do Douro
Agora para finalizar nosso papo, mas não sendo menos importante, vamos seguindo viagem até a belíssima região do Vale do Douro.
Me lembro bem que da primeira vez que estive por lá me bateu uma enorme frustração. Cheguei perto da hora do almoço, visitei uma Quinta, experimentei uns vinhos, almocei, bebi outros vinhos em outra Quinta, fiz um passeio curtinho pelo rio em um barco Rebelo e logo parti, nem vi o sol se pôr, nada. Foi bom, mas foi ruim.
Veja bem, meu estilo de viajar vai um pouco contra o que a grande maioria prefere. Sou extremamente ligada a cultura, a experiências, a sensações. Fazer uma viagem corrida, para mim, significa apenas que eu estive naquele lugar, não que eu conheci aquele lugar de fato. Então, fazer passeios com hora marcada, sem poder entrar no clima do lugar, conversar com as pessoas, observar o dia indo embora e a noite chegando, pra mim não é bem curtir a viagem.
Logo que fui embora naquele dia prometi que iria voltar com calma, não para correr um monte de Quintas, como vejo algumas pessoas fazendo por aí como se isso fosse uma gincana ensandecida, mas para estar de verdade lá. E foi o que fiz quatro anos depois.
Minha experiência na região do Vale do Douro foi das mais slow motion que tive, na longa viagem por dois meses conhecendo de verdade Portugal. Por conta de um convite especial, fiquei hospedada em uma propriedade centenária na beira do Douro. Como você pode ver na imagem, pude contemplar o nascer do dia, com toda sua névoa de outono na margem do Douro, bem da minha varanda do quarto.
Pude passar minhas horas passeando entre vinhas jovens e centenárias, experimentando as uvas mais saborosas que até então já provei. Tive a oportunidade de saborear vinhos incríveis da Real Companhia Velha tendo o Douro como testemunha.
Passeei também, dei minhas voltas, segui até a estação do Pinhão pra rever com mais calma aquela que, para mim, é das mais lindas estações de trem de Portugal, conversei com pessoas, pisei com os pés descalços na terra molhada, senti as gotas de orvalho no meu rosto… não, em um bate-volta isso jamais seria possível.
Então, meu querido leitor, consegui lhe fazer entender o valor que existe em ficar mais tempo naquelas cidades que geralmente só nos indicam para um bate-volta? Consegui, de alguma forma, te fazer entender que você pode vivenciar coisas muito incríveis em lugares aparentemente improváveis?
Eu sei que existem limitações. Eu mesma enfrentei muitas e por isso não estive em tantos outros lugares nessa viagem como pretendia quando saí do Brasil. Piódão é um belo exemplo disso. Tudo pelo simples fato de que eu não dirijo e certos lugares só se pode chegar de carro. Estava viajando sozinha, nenhum amigo meu de Portugal tinha disponibilidade para seguir para aqueles lados, então… acabou ficando para a próxima. Não vou desistir.
Cada viagem é única e não há nada clichê nessa afirmação. A gente precisa aprender a pisar no freio quando planeja uma viagem. Tem lugar pra tudo. Tem viagem pra tudo. Tem tempo pra tudo. Tem até tempo pra ter mais tempo.
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