Antiquíssimos núcleos urbanos, muitos deles com fundação anterior à nacionalidade, deixaram marcas de um tempo passado. Situadas normalmente em terras altas deixam um convite para os novos exploradores subirem ao seu castelo e passearem por suas muralhas.
Visitar estas belíssimas aldeias medievais portuguesas é como viajar no tempo. Fica aqui o convite para um regresso ao passado.
Longroiva
Este povoado funcionou como ponto de vigia medieval. Em termos arquitetônicos, são vários os testemunhos do românico, manuelino e barroco.
Num perímetro geológico de elevado interesse, de onde emergem diversas fontes termais com propriedades diferentes (nascentes de águas purgativas, férreas e minerais), esta aldeia templária e todo o seu patrimônio edificado, cultural e lendário merecem ser (re)visitados.
Existem vários locais de interesse, como o Castelo (antiga fortificação dos Templários restaurada por Gualdim Paes), onde resistiu a Torre de Menagem e uma cerca, o Pelourinho a Igreja Matriz e a Capela de N. Srª. do Torrão, construída nas rochas.
Lindoso
Situada na margem esquerda do rio Lima, perto do ponto onde este entra em Portugal, a aldeia do Lindoso pertence ao concelho de Ponte da Barca, ainda que diste quase 20 km da vila. O castelo medieval e o campo de espigueiros são os seus ex-libris.
O castelo, mandado construir pelo rei D. Dinis, defendia um ponto-chave da fronteira, já que o vale do Lima era o único ponto possível de penetração para um eventual invasor, dada a barreira constituída pelas serras do Soajo e Laboreiro, a norte e do Gerês e serra Amarela, a sul. Apresenta-se bem conservado e com uma alta torre de menagem virada para a Galiza.
Lá de cima, para além do rio Lima e do casario da aldeia, tem-se uma panorâmica completa de uma das mais fascinantes criações da arquitetura popular portuguesa: um vasto campo de espigueiros construídos em granito sobre uma gigantesca laje com idêntica natureza geológica. Estas pequenas construções destinavam-se a guardar o milho e outros cereais em condições ideais de temperatura e humidade e ao abrigo das pragas de roedores.
Quanto à gastronomia, é também muito variada e não dispensa as papas de sarrabulho, rojões à moda do Minho, cozido à portuguesa, cabrito assado, posta barrosã, fumeiro (enchidos e presunto), lampreia, truta, vinho verde e mel.
Depois de bem abastecido gastronomicamente, pode deliciar-se com toda a paisagem envolvente, percorrendo o trilho dos Moinhos de Parada, um percurso pedestre de sete quilômetros.
Castelo Mendo
Castelo Mendo fica a sudoeste de Almeida, junto a um dos nós da A25. Eleva-se a 721 metros de altitude, coroando um cabeço granítico rodeado pelo fundo vale do Côa. A aldeia continua amuralhada, tal como estava quando o rei D. Sancho I a mandou erguer em princípios do século XIII.
Mantêm-se no interior uma série de igrejas, umas em ruínas, outras bem conservadas, sendo curiosas as representações do lendário alcaide Mendo e da sua mulher, Menda, carrancas colocadas na fachada de duas casas vizinhas. Perto um pequeno mas curioso museu rural e etnográfico (Museu do Tempo e dos Sentidos).
Lá no alto, os restos de uma igreja românica e de uma torre de onde terá bela vista de conjunto sobre a aldeia e a paisagem envolvente. Castelo Mendo tinha uma importante feira medieval, provavelmente a primeira feira oficial do país.
Sortelha
O granito é o suporte para todas as edificações desta aldeia histórica, desde as casas ao empedrado das ruas estreitas, passando pelas muralhas do castelo que se ergue a 760 metros de altitude. Este foi mandado reconstruir por D. Sancho II e sofreu vários restauros (nos reinados de D. Dinis, D. Fernando e D. Manuel) depois de alguns tremores de terra que afetaram a sua estrutura.
Sortelha ainda se conserva rodeada de fortes muralhas circulares, que se estendem pelos declives naturais, envolvendo a aldeia como um anel. Na sua urbe destaca-se o recinto da cidadela no cimo de um penhasco mais elevado, com a torre de menagem quadrada ao centro.
Daqui abarca-se um amplo horizonte em que se distingue a serra da Malcata e a linha final da serra da Estrela. Além do castelo, são notáveis, igualmente, a igreja matriz do século XIV, dedicada à Virgem das Neves, um conjunto de sepulturas medievais escavadas na rocha e o pelourinho manuelino.
Bastante curiosas são as formações graníticas conhecidas como Pedra do Beijo e “Cabeça da Velha”, dois penedos graníticos com formas incomuns.
Coroada por um castelo apoiado num formidável conjunto rochoso a 760 m de altitude, Sortelha mantém intacta a sua feição medieval na arquitetura das suas casas rurais em granito.
O encanto desta aldeia reside na sua atmosfera medieval, onde as casas todas construídas em pedra de granito e geralmente de um só andar, se alicerçam na rocha e acompanham a topografia do terreno. Fora das muralhas cresceu uma outra aldeia moderna, infelizmente em moldes arquitetônicos diferenciados da tradição.
Castelo Bom
Embora do primitivo castelo medieval que defendia a linha do Côa não restem grandes vestígios, trata-se de uma aldeia curiosa, situada junto ao Côa, cerca de 10 km a oeste de Almeida.
Aldeia amuralhada, vestígios da arquitetura medieval. Regista-se ainda a presença de elementos decorativos do barroco nas fachadas de alguns edifícios.
Castelo Novo
Situada na encosta oriental da serra da Gardunha, a cerca de 650 metros de altitude, esta aldeia histórica destaca-se pelo seu harmonioso traçado concêntrico e pelo bom estado da estrutura urbana.
As ruas, traçadas segundo as curvas de nível, revelam antigos solares, paredes-meias com casas populares em pedra, pequenas varandas de madeira e restos de calçada romana.
Entre os locais de visita obrigatória estão a Casa da Câmara, Cadeia e Pelourinho, o Chafariz da Bica, a Igreja da Misericórdia e o castelo. À saída da aldeia, numa pequena elevação, fica o Cabeço da Forca, zona de execução de condenados, significativamente marcada por duas caveiras esculpidas na rocha.
É junto a esta aldeia que se situam as nascentes das águas do Alardo. A lagariça, construção escavada na rocha em forma de concha com planta circular, foi durante séculos utilizada para o fabrico do “vinho de todos”, único exemplo dos trabalhos coletivos das antigas comunidades rurais.
Idanha-a-Velha
Pequena aldeia, a 15 quilómetros de Idanha-a-Nova, junto ao rio Pônsul, foi outrora uma importante cidade romana e sede de diocese durante o período visigótico. Em finais do século XIX foi identificada como sendo a Civitas Igaediranorum, urbe que se situava junto à grande via romana que ligava Mérida (Espanha) a Braga.
O batistério e ruínas anexas do que se pensou ser o paço episcopal, assim como a catedral, são do tempo dos visigodos, embora esta tenha sido transformada, primeiro em mesquita e, mais tarde, em templo cristão. Já do início da nacionalidade é a torre de menagem, que se supõe ter sido construída sobre o podium de um templo romano.
Nas últimas décadas procedeu-se à requalificação da povoação, no âmbito do programa das Aldeias Históricas, que restaurou muitos dos seus monumentos e integrou um pequeno núcleo museológico, onde se pode ver uma coleção epigráfica luso-romana. Recuperado foi também o antigo lagar de azeite onde funciona outro museu que merece uma visita atenta.
Ucanha
Sede de concelho até às reformas liberais, Ucanha fica situada nas margens irregulares do rio Varosa e pertencia ao couto do convento cisterciense de Salzedas.
Aqui vale a pena visitar a ponte-torre fortificada (do século XII), monumento muito raro em Portugal e ainda o pelourinho (do século XVII), a igreja matriz e as ruínas românicas (no local da Abadia Velha), que atestam a existência de estruturas de um templo românico.
Linhares da Beira
Hoje conhecida como Capital do Parapente, Linhares da Beira é uma antiga vila medieval já habitada desde a época dos romanos. Como marcas desses tempos existem várias sepulturas, um trecho da calçada romana e parte do edifício atualmente chamado Fórum de Linhares.
O seu castelo, Monumento Nacional reconstruído em 1291 durante o reinado de Dom Dinis, desempenhou um importante papel na defesa da Beira Alta durante os primórdios da nacionalidade.
Daqui se avista uma boa parte do restante património histórico da localidade, onde se destacam também a igreja matriz de origem românica, que guarda três pinturas do mestre português Grão Vasco, o pelourinho manuelino, a casa da câmara, com armas reais de Dona Maria, o solar Corte Real, construção barroca do século XVIII e o solar Brandão de Melo, edifício neoclássico do século XIX.
Marialva
Situada num cabeço rochoso a 580 metros de altitude, a aldeia histórica de Marialva teve ocupação anterior aos romanos. Em 1063, foi conquistada aos mouros por Fernando Magno de Leão, que lhe atribuiu o topónimo que ainda hoje conserva.
O acesso ao interior das muralhas faz-se pela Porta de São Miguel, onde existe um nicho do anjo da guarda e estão gravadas as antigas medidas da vara, côvado e palmo, dado aqui se realizar uma importante feira medieval. Além desta, a cerca possui mais três portas: Postiguinho ou Porta da Traição, Porta de Santa Maria e Porta do Monte.
No interior do recinto amuralhado, hoje desabitado, encontram-se as antigas Câmara Municipal e Casa dos Magistrados, e ainda o pelourinho. Perto fica a torre de menagem, rodeada por uma pequena cerca. Junto à torre, uma fenda vertical escavada na rocha foi outrora o paiol do castelo.
Nas imediações, a Igreja de Santiago apresenta numa porta lateral a data de 1585. O pórtico é manuelino, a capela-mor tem o tecto em caixotão e a talha do altar-mor é de madeira trabalhada.
Ao lado, a capela da Misericórdia exibe um tecto com painéis alusivos à vida dos santos e um púlpito exterior. A cerca amuralhada do castelo dispõe de três torres meio arruinadas (torre do relógio, da relação e dos namorados) e oferece belas vistas panorâmicas, reconhecendo-se para nascente a serra da Marofa e para sul, em dias de boa visibilidade, a serra da Estrela.
Óbidos
Quando se pensa num lugar para fazer um passeio de mãos dadas, passar um dia ou noite romântica e, até, casar, esta Vila tem de constar das primeiras da lista! Não tivesse sido dada várias vezes como prenda de casamento, pelos reis portugueses às suas rainhas.
O seu castelo, os doces e artísticos chocolates, as infindáveis páginas dos seus livros, as varandas floridas, a calçada, as muralhas do castelo e a arquitetura das casas térreas têm sido inspiração para artistas e casais de namorados que chegam à vila medieval de Óbidos de coração aberto.
Festivais com sabor, arte e um toque internacional
Dentro e fora das muralhas do castelo decorrem, todos os anos, o Festival Internacional de Chocolate (março/abril), o SIPO – Festival Internacional de Piano (verão), o Mercado Medieval (julho/agosto) e o Vila Natal (dezembro), eventos que atraem muitos visitantes e famílias para saborear autênticas esculturas artísticas, ouvir e aperfeiçoar os seus dotes musicais, visitar outros tempos com que só se cruzaram na escola e sentir a magia do Natal.
Também nesta Vila se acolheu o FOLIO – festival literário internacional que promove a criatividade, a educação e a literacia, através de “viagens” que dão que falar.
Fique para almoçar uma caldeirada de peixe da Lagoa de Óbidos, acompanhada de um bom vinho de Gaeiras e terminando com uma sobremesa local, os pastéis de Moura ou as trouxas de ovos. Não esqueça a sua ginjinha em copo de chocolate e beba-a com doçura.
Depois, percorra as muralhas do castelo de uma ponta à outra, aprecie os telhados e alpendres das casas brancas que ali vivem protegidas há séculos e sinta-se especial como as Rainhas que tão bem embelezaram este território que lhes foi oferecido com amor há séculos atrás.
Texto publicado originalmente em NCultura
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